domingo, 26 de abril de 2015

XXXVII- Identidade

Estava pensando no tema para ser o último texto desse blog. E aí me veio essa ideia, a identidade.

Lembro-me da Sol, uma das maiores colegas que tive no curso de psicologia, me falando a respeito disso: de identidade. Conversamos o quanto esse conceito é diferente do de "personalidade", já que este levaria em consideração aspectos além do psiquismo.

No entanto, não quero ficar discutindo essas teorias aqui. Aliás, todo o intuito desse blog foi pensar sobre mim sem a necessidade de ficar toda hora recorrendo a expedientes teóricos e citações de coisas que aprendi. Ainda que eu não possa pegar essas coisas e jogá-las para vala, supondo uma "espontaneidade" do meu pensamento.

Quando o Morcegão, professor de redação da quinta série, me pediu para fazer uma redação sobre "Quem sou eu" eu fiquei puto. Tinha um roteirinho que ajudava, com perguntas específicas e em cima dela seria feita a redação. Queria imitar minha mãe, que no colégio também se irritou com tal tema e ao invés de fazer um texto sobre "eu", escreveu uma redação sobre "nós". Eu na verdade não me lembro exatamente o que eu escrevi, mas sei que naquele bimestre levei nota vermelha. Depois recuperei, mas o tal professor do tênis rosa surrado ficou maldito nas minhas lembranças.

Ironicamente, anos depois estaria eu com meus blogs. Pensando sobre mim mesmo. Eu que tenho horror a esse "eu mesmo", que me parece algo tão cristalizado. fixo. Naquela mesma época um colega de sala - uma das pessoas mais detestáveis que conheci, pra ser sincero - disse que eu e outros dois amigos tínhamos a capacidade de não nos parecermos com uma identidade a nenhum grupo fixo: não éramos playboys, não éramos os militantes politizados, metaleiros, ou seja lá qualquer outra coisa que pudesse existir naqueles tempos.

O mais irônico é que alguns anos depois meu ex namorado diria algo parecido, mas como se fosse um defeito meu. Ele se vangloriava por se identificar com algo, achava que isso era sinal de uma "personalidade". Na época me senti pra baixo. Hoje dou risada em relação a isso e me sinto bem por ser assim, por ser quem eu sou, por não estar certo sobre quem eu sou, como diz o Caetano naquela entrevista pro programa Vox Populli da TV Cultura de 1978.

E esses trinta e sete textos me fizeram pensar, como pequeninos recortes, sobre alguns temas que julguei interessantes mencionar e a partir dele falar um pouco mais de aspectos pessoais. Alguns feitos no puro improviso, outros herméticos e confusos que nem eu entendo ao relê-los, outros feitos em dias de maior inspiração. Mas o que é a vida se não isso, nesses 37 dias, anos e tantos outros textos, sejam os que lemos por escrito, sejam aqueles que lemos pelo mundo, com os nossos sentidos.

Para todo o resto, é seguir caminhando...

Ps: Caso alguém se interesse, meus demais textos estão no meu outro blog, que pretendo retomar com mais regularidade no meu trigésimo oitavo ano incompleto ;)


sábado, 25 de abril de 2015

XXXVI- Vaidade

A primeira vez que pensei em vaidade fui logo para questão física. Mal de gordo. Acho que por vezes me sinto bem com meu peso, aí por outras olho e vejo "ah, não to bem, gordura não combina comigo". Aí hoje me olho no espelho e penso: ok, estou mais gordo, mas to um tesão.

Depois fui para outros pontos, outras formas de vaidade. Um amigo meu reclama de outro que faz questão o tempo todo de mostrar o quanto aquilo que ele compra é caro. E se algo acabou de lançar, manda logo um link com o site do preço do produto caríssimo dizendo que vai comprá-lo.

Eu acompanho meu feed nas redes sociais e estamos todos lotados de vaidade. Especialmente com aquilo que se pensa. Somos tão vaidosos que por vezes parece que uma opinião tida como errada equivale a ser destratado na aparência. Algo como: sua cara está horrível.

Tenho ultimamente observado muitas coisas e me pronunciado menos. Talvez o que eu precise de fato é explorar coisas novas. Algo que equivale a mudar de aparência. Aliás faço até um gancho com minha própria vida. Explico melhor.

Creio que na adolescência ser gordo foi algo que me deu uma ilusão de me proteger de qualquer possibilidade de perguntar: por que você não sai com mulher? Vi um rapaz comentar isso num daqueles programas da MTV americana que passava na década passada e me identifiquei com isso na hora.

Depois as roupas. Sempre em tons mais escuros. Sem graça. E com o tempo fui pedindo ajuda a amigos que entendiam melhor dessas coisas e tal. Hoje já sou capaz de ir na loja e saber escolher o que quero, o que fica melhor pra mim, sem precisar me esconder em cores sem graça. Tudo bem, posso passar horas fazendo isso. Porém faço com mais autonomia.

Nunca entendi aquela frase "tudo é vaidade". Mas talvez ela esteja certa. Nossas postagens, nossas roupas, nossas ideias, nossas opiniões, nossos gostos, nossa família, nossos amigos, tudo que investimos parte de nós mesmos é vaidade. E esse blog também é, definitivamente, um exercício de vaidade.


sexta-feira, 24 de abril de 2015

XXXV- Saber

Saber, derivação imprópria. O verbo que implica uma ação se torna substantivo. Se torna nome. E os nomes determinam seres e coisas. Ganham existência. O que antes poderia determinar um movimento, uma energia (Força x Deslocamento) acaba se tornando matéria.

Uma das expressões mais interessantes que um amigo criou foi "casa do saber" para se referir à motéis. E não tem nada de citação a filósofos, psicanalistas, nada disso, foi uma expressão espontânea da parte dele.

Lembro-me de aos 11 anos, vendo a novela Tieta, a personagem na primeira fase dizendo que iria aprender o "ipisilone duplo". O "beabá". Como o sexo tem dessas coisas de aprendizado, uma situação de desconhecimento que se torna conhecida.

O que tenho percebido, ao longo desses 37 dias, é de que maneira eu lido com a sexualidade em mim. Qual o "saber" que tenho de mim mesmo. Sei que isso é algo que me acompanha desde criança - guardadas as devidas proporções do desenvolvimento em cada idade- ao passo que na adolescência a minha (homo)sexualidade se insere nos saberes dos outros, saberes sociais que fazem com que ela seja mais que reprimida, mas devidamente enquadrada e disciplinada.

Após o começo da minha vida adulta e quando finalmente pude exercer minha sexualidade com alguém, ela irrompe como um rio calmo que depois vem uma chuva e voilá, tem se um tromba d'água. Me reencontro de certa forma com aquele saber lá da infância, mas agora de forma diferente, adulta, com as responsabilidades que ela traz.

Talvez uma das cenas mais lindas que já tive com alguém, sexualmente falando, foi nós dois nus nos olhando no espelho. Eu olhando para seu corpo e ele para o meu. Apenas isso. Operando os nossos saberes, conhecendo um ao outro, ou, quem sabe, já traduzindo, melhor que qualquer alfabeto, o que nós estávamos sentindo um pelo outro naquele momento.

E indo mais longe, esse "saber", no fim das contas é um saber de um Outro, de um Outro que habita dentro de si. O saber, não importa se ele é furtivo como uma gozada num canto escuro proibido da madrugada ou no casamento mais duradouro pode ser- digo pode, porque nem sempre estamos dispostos a isso- uma profunda experiência de auto conhecimento. Acho que estou somando mais algum ao meu.



quinta-feira, 23 de abril de 2015

XXXIV- Saudades

Saudade, obviamente tem muito a ver com apego. Muitas vezes já vi o quanto esse é um dos sentimentos que mais mexem comigo, desde criança.

Eu me recordo de quando criança eu estava em outro estado com minha mãe passeando. Meu pai não pôde ir com a gente e ficou em casa cuidando da minha irmã, que só tinha 2 anos na época. Eu me lembro do quanto chorei de saudade ao escutar a voz dele no telefone.

Situação parecida eu senti anos depois, já no fim da adolescência, certa vez quando dormi em uma casa de veraneio, quando passei um feriadão com amigos. Curiosamente, na mesma cidade onde moro hoje. Me peguei em uma noite pensando na minha mãe. Não tinha uma razão específica, era só saudade da presença dela.

Hoje fiz uma coisa que nunca tinha feito antes com um namorado. Uma coisa com cara de antiga, dos tempos da infância quando as pessoas iam nas praças, ainda que em grandes cidades: sentar no banco para comer cachorro quente. Tudo bem que foi um x-tudo, mas ainda assim, ao sentar naquele banco e olhar a paisagem ao meu redor, com uma chuvinha fininha de outono em um feriado no qual as ruas estavam vazias e o shopping principal da cidade estava cheio.

O banco era bem defronte ao antigo prédio. Lembrei-me da primeira vez que conheci aquela parte da cidade. Era uma novidade, uma euforia me tirando da mesmice dos fins de semana habituais na cidade onde moro. Até porque era uma nova fase: um novo namoro.

Daí me peguei pensando sobre isso, sobre uma certa saudade daqueles dias. Ao mesmo tempo não me dei conta de novos dias que estão para chegar. E que por vezes a saudade pode mostrar exatamente uma pessoa, uma situação, um lugar que de alguma maneira foi significativa para mim, mas mostra que agora o momento é outro, outras situações para deixar novas saudades.


quarta-feira, 22 de abril de 2015

XXXIII- Rebeldia

33. A idade de Cristo. Rebelde ou alguém que veio reiterar a velha Lei?

Eu me lembro de quando eu vi "Os Embalos de Sábado à Noite" pela primeira vez. Foi na televisão e eu devia ter uns 6, 7 anos. Lembro-me pouco da trama em si, apenas das cenas de dança, mas uma cena em especial me chamou a atenção: quando o Tony briga com o pai para poder sair. Não me lembro exatamente a razão, mas sei que eu adorei aquela cena. Queria fazer o mesmo. Eu criança, de saco cheio de ter que ouvir tanto não e levar porrada, poder um dia ser um jovem adulto e falar o que eu quisesse que eu não poderia levar uma surra.

Ao longo da vida transitei entre ser aquele que está dentro das normas ou se no fundo era um rebelde. Na sala de aula era o CDF (norma) que sentava com a turma do fundão (transgressão). Alguns amigos pensam que sou extremamente diplomático, que sou incapaz de quebrar com as regras estabelecidas. Minha irmã acha que faço tudo o que meus pais sempre mandaram eu fazer.

Ironicamente minha mãe e a minha tia, que me amamentou, pensam exatamente o oposto. Acham que tenho um gênio forte e só faço as coisas do jeito que eu quero. Um ex-amor já me disse que sou muito radical.

Sobre esse tema, talvez, a real transgressão seria simplesmente não me importar se fulano, beltrana ou seja lá quem for, pensa a respeito disso. Se é legal transgredir, se é certinho estar dentro das regras. Pensar nisso aliás não é nem quebrar com o tão falado "sistema", mas é transgredir comigo mesmo.

Ps: Ironicamente, em 27 de abril de 1978, a música número 1 era justamente do filme que menciono ;)



terça-feira, 21 de abril de 2015

XXXII- Padrões

Hoje de tarde fui fazer um pudim. E eu estava muito preocupado em não estar seguindo corretamente a receita, quando a pessoa amada me diz: você se preocupa muito com o padrão das coisas. Acabou que no fim nós dois juntos fizemos uma receita ótima de uma maneira diferente da habitual: o invés de fazê-lo no forno, ele foi feito no fogão.

Mais tarde um rapaz evangélico me diz que o "homossexualismo" é pecado. Ele faz todo um malabarismo, dando um ar científico às questões religiosas. Diz que se diferencia dos seus pares por não achar que os direitos devem ser negados, que homossexuais deveriam sofrer qualquer forma de violência, mas constrói um malabarismo para dizer que a Bíblia diz que é pecado.

Interessante ver como são padrões e uma necessidade de seguí-los, de mantê-los à risca. No meu caso com a receita eu tenho uma explicação que consigo entender: sigo as receitas que me foram ditas por insegurança. Quando eu desconheço um determinado prato, a maneira como ele é feita, enquanto eu não a domino, eu prefiro seguir a receita. E quando eu já entendo como posso fazê-la, aí sim me sinto seguro para poder modificá-la. Fico mais à vontade.

Penso no rapaz que fala sobre o que é ou o que não é pecado. Não quis entrar no mérito da religião dele, pois penso duas coisas: uma é a liberdade de religiosa e outro é até que ponto essa liberdade fere dos direitos de alguém. Pelo menos ele se mostrou interessado em saber mais, se abrir mais. Se ele estiver de coração aberto.

No frigir dos ovos, a visão dele sobre as orientações e identidades sexuais cabe a ele perceber.  A mim, cabe quebrar com certos padrões e por outro lado ficar mais fortalecido, pois há pessoas querendo impor os seus, para as outras


segunda-feira, 20 de abril de 2015

XXXI- Preconceitos

Certa vez uma amiga da minha irmã chegou em casa e começou a observar o gato, que estava na dele estirado no tapete. Verão carioca e o bichinho aproveitava o vento que vinha exatamente abaixo do ventilador. E, depois de um tempo ela solta:

- Nossa, tenho medo de gatos. São traiçoeiros. Não podemos confiar neles.

E minha mãe, como a típica dona de bicho já soltou: traiçoeiro é o ser humano. Tenho mais medo de gente do que de um bichinho desses. E tomou birra da garota.

Engraçado que sempre gostei de gatos. Em princípio eles eram, quando criança, uma alternativa ao meu medo de cachorros (que guardo de certa forma até hoje). E com o tempo fui me afeiçoando a eles.

O Rafael já apareceu na minha vida quando já estava no começo da vida adulta, bem como a irmã dele, a Catarina. E sim, percebi que eles têm aquele jeito mesmo de ficar na deles, mas sempre observei o quanto eles queriam ficar perto da gente e no quanto miavam quando alguém saía de casa.

A Catarina em especial sempre foi mais apegada comigo. Ela sabia exatamente a hora que eu acordava, mesmo sem eu me levantar da cama e com a porta do quarto fechada.  E assim foram 14 anos felizes com ela, que morreu há quase dois anos. Rafael acaba de completar 16 anos.

Interessante que ao conviver com eles fui percebendo aos poucos como eles são. Me desfiz também de certas ideias sobre eles e vi o quanto eles podem ser também apegados, como eles miam para chamar a atenção e tudo o mais. A convivẽncia, o tempo e a observação do comportamento deles permitiu que uma série de coisas fossem percebidas. Coisas que eu não tinha reparado antes.

Usei o mote dos meus gatos para perceber o quanto por vezes sou chato com determinadas coisas. Que por vezes, assim como a amiga da minha irmã, eu tomo bronca sem ter dado a oportunidade de entender um pouco mais.

Claro que não quero cair num relativismo absurdo. Cada um tem seus limites. A pergunta é: até quando isso se torna uma impossibilidade de descobrir o novo e, em caso mais extremos, até que ponto ideias pré concebidas acaba nos tornando violentos, desprezando o que não está dentro da nossa lista de coisas que consideramos certas, bonitinhas e tudo o mais?

Obviamente não estou aqui fazendo um texto para discutir preconceito e discriminação na ordem social (machismo/misoginia, racismo, lgbtfobia) tão na ordem do dia das redes sociais e que mexem comigo também. Estou falando de questões mais internas, aparentemente banais, que no fundo devem ter relações com esses outros grandes temas que mencionei anteriormente. Enfim, para esses dias de auto análise, esse é um ponto que não posso deixar de fora.