sábado, 4 de abril de 2015

XV- Entrega

Tem uma cena no filme "O Padre" em que uma personagem diz ao tal personagem em questão: quem deu a salvação foi Judas, não Jesus, já que sem ele os acontecimentos que levaram à ressurreição e tudo o mais não aconteceria.

As duas personagens representam a entrega. Um para salvar a si mesmo para ter vantagens e o outro para a salvação de todos os pecados da humanidade. Isso me faz pensar em outras entregas que fazemos, condicionando responsabilidades nossas aos outros.

Penso numa discussão recente muito forte e daí vi o quanto dessa discussão tinha de comportamento meu nisso querendo a devida atenção. Só que eu não posso sucumbir o meu desejo à vontade do outro responder àquele desejo ou não.

Reclamamos de muita coisa, de falta de atenção, da pessoa que não disse um "bom dia" como queríamos, da pessoa que não nos atende naquele exato momento, da data do aniversário que foi esquecida, entre tantas outras.

O pior que como consequência é que, ao perceber que essas entregas de responsabilidades emocionais aos outros acaba por fim fazendo que se entre numa espécie de círculo vicioso no qual o que é sacrificada é a própria vontade, a capacidade em resolver aquilo, tudo por um desejo sádico passivo-agressivo de se recusar ao seu próprio devir.

Talvez o caminho de acusação seja o mais fácil. No frigir do ovos, ao se fazer tal atribuição, estaremos, assim como Pilatos, lavando as nossas próprias mãos.



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