domingo, 5 de abril de 2015

XVI- Desconstrução

Penso naquele pastor fundamentalista. Seus defensores dizem que ele tem o dom da palavra, que é muito inteligente, que ele se expressa muito bem e tudo o mais. Até mesmo alguns de seus opositores afirmam isso, inclusive dizendo que é essa a razão dele ter muitos seguidores. Mas tudo o que ele faz é gritar ao invés de falar e, tomados por essa agressividade, achamos ele foda. Mas não é.

Talvez uma maneira de estar no mundo é nomear tudo. Sendo que muitos desses nomes já vêm dados. E junto com esses nomes estão atribuídos uma série de significados. E ao usá-los os incorporamos para a construção da própria identidade. 

Mas essa nomeação é uma construção. E essas construções não existem para ficarem imóveis, eternas, na medida em que as coisas vão mudando. A  percepção de mundo muda também, seja no decorrer de toda história humana como bem na própria história individual.

A tarefa mais difícil deve ser a de desconstruir. Desfazer. Pessoal das humanas gosta disso. Não é à toda, já que temos uma palavra para nos definir: humano. E a tarefa é: tá, o que fazemos com isso agora?

Lembro-me de um amigo que adora zoar clichês ditos em entrevistas ou em perfis de redes sociais. Um deles é esse: definir é limitar-se. Paradoxalmente, na maioria das vezes que vejo essa frase é mais uma tentativa paradoxal de ser exatamente a mesma coisa, quase um dogma, como aqueles proferidos pelo pastor que berra em seus cultos.

E quando penso nesse berreiro todo, vejo que é justamente pela necessidade de construção de uma grande muralha, o berro como forma de evitar quaisquer questionamentos. E num mundo em que se valoriza a agressividade dos homens como forma de expressão de virilidade e inteligência, fica fácil agir dessa forma. Vão se somando ao sermão palavras que construímos e tomamos como certas.

Por vezes também essa desconstrução a qual somos tão arraigados afeta internamente. E dependendo do grau, acontece uma verdadeira implosão. Só que há sempre pedaços que resvalam com quem estamos nos relacionando. Há algo explosivo nisso também, porque por diversas vezes , há de se desconstruir ideias que fazemos das outras pessoas.





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