sexta-feira, 17 de abril de 2015

XXVIII- Lembranças

Alguns dizem que tenho boa memória. E eu por vezes penso que não tenho. Sou incapaz de me lembrar de detalhes, de coisas antigas, de como foram determinados encontros, o nome das pessoas. Sou capaz até mesmo de esquecer dos rostos.

Vira e mexe alguém me diz: você se lembra de fulano de tal, dos tempos do colégio. E aí tenho péssima capacidade de me lembrar de quem era tal pessoa. Por vezes o rosto me é mostrado, vejo fotos atuais e até antigas com as pessoas do colégio e nada. Aquela pessoa não foi registrada.

Bate uma certa angústia: por que fulano de tal que andava comigo direto se lembra de tal pessoa e eu não?

Daí me dou conta de que as memórias formam uma espécie de mundo com características próprias de cada um. A leitura que cada um faz do passado apresentará muitas diferenças. Alguma de ordem racional, mas suspeito que o emocional tem um peso enorme nesse sentido.

Por exemplo: me disseram "se lembra de fulana?". Me lembrava do rosto dela, e das pessoas com quem ela andava junto. E só. Naqueles anos que se passaram nunca trocamos nenhuma palavra, nada dela me era mencionado. Era apenar um rosto nessa paisagem chamada "meu mundo de lembranças". E posso sê-lo também nas lembranças de muitas pessoas.

Talvez, pensar em lembranças faz a gente pensar, a exemplo que quando olhamos para o tamanho do universo, de como por vezes nos sentimos tão especiais, mas nessa constelação de pessoas que existem no mundo, em muitos somos apenas paisagens ou sequer existimos. Ainda que tenhamos convivido por um bom tempo. E não há nada de estranho nisso.


Nenhum comentário:

Postar um comentário