domingo, 19 de abril de 2015

XXX- Alteridade

Inicialmente o título desse texto seria ansiedade. Depois mudei de ideia ao perceber que eu abordaria apenas um aspecto da minha vida que se relaciona com ela: o olhar do outro.

A primeira vez que vi essa palavra foi curiosa. No ensino médio tive que ler São Bernardo do Graciliano Ramos, só que eu, por mais que goste de ler, eu também era um adolescente que por vezes não tinha saco para os clássicos da literatura. Daí que o tempo foi passando e na véspera da prova eu só pude ler o começo do Romance.

O que eu fiz então? Comecei a ler aquela resenha crítica de 30 páginas de algum crítico literário, que sempre tem nesses livros (e que outros adolescentes dificilmente teriam saco pra ler) para ver o que era dito. Sim, o texto do Graciliano era melhor, mas não era apenas 30 páginas.  O objetivo era pegar todos os jargões ali ditos e com a minha imaginação em encaixar tudo com tudo, usar aquela análise e usá-la na prova.

Deu certo. E o ensino se provou que mais que fazer com o que o aluno se interesse pela leitura, quer que ele regurgite coisas ditas pelos críticos. Mas esse é outro assunto.

E uma das palavras que aparecia era essa: alteridade. Achei bonita e tasquei onde podia na prova.

Eu iria fazer uma análise mais profunda de como por vezes minha ansiedade aumenta pelo olhar do outro através de dois exemplos. O primeiro é de como eu me importo com o que os outros podem pensar de mim diante de algum comportamento meu que é reprovado. O outro exemplo seria de como numa situação em que sou ofendido ou posso argumentar claramente contra o outro, eu fico calado e depois me remoendo por não ter dito algo de forma veemente.

Iria, porque sem querer essa anedota estudantil me traz um exemplo muito bom a respeito. A maneira que minimizei, naquele momento, a minha ansiedade diante de um teste no qual o olhar do outro - no caso, o da professora e seus outros, isto é, a teoria literária e educacional devidamente formatada - era o que decidiria minha nota. E como apelei para outros (a crítica nas páginas iniciais do livro) para poder lidar com isso.

De qualquer forma nada existiria se eu não tivesse eu mesmo elaborado um texto para lidar com aquilo. Não foi simplesmente uma cópia. E aí no fim das contas eu penso: se estou ansioso diante da alteridade é porque na verdade isso foi, em muitos momentos, uma escolha minha.

No final de tudo vem outra pergunta: tá, mas que escolhas devem ser feitas para poder lidar com isso?


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