sexta-feira, 24 de abril de 2015

XXXV- Saber

Saber, derivação imprópria. O verbo que implica uma ação se torna substantivo. Se torna nome. E os nomes determinam seres e coisas. Ganham existência. O que antes poderia determinar um movimento, uma energia (Força x Deslocamento) acaba se tornando matéria.

Uma das expressões mais interessantes que um amigo criou foi "casa do saber" para se referir à motéis. E não tem nada de citação a filósofos, psicanalistas, nada disso, foi uma expressão espontânea da parte dele.

Lembro-me de aos 11 anos, vendo a novela Tieta, a personagem na primeira fase dizendo que iria aprender o "ipisilone duplo". O "beabá". Como o sexo tem dessas coisas de aprendizado, uma situação de desconhecimento que se torna conhecida.

O que tenho percebido, ao longo desses 37 dias, é de que maneira eu lido com a sexualidade em mim. Qual o "saber" que tenho de mim mesmo. Sei que isso é algo que me acompanha desde criança - guardadas as devidas proporções do desenvolvimento em cada idade- ao passo que na adolescência a minha (homo)sexualidade se insere nos saberes dos outros, saberes sociais que fazem com que ela seja mais que reprimida, mas devidamente enquadrada e disciplinada.

Após o começo da minha vida adulta e quando finalmente pude exercer minha sexualidade com alguém, ela irrompe como um rio calmo que depois vem uma chuva e voilá, tem se um tromba d'água. Me reencontro de certa forma com aquele saber lá da infância, mas agora de forma diferente, adulta, com as responsabilidades que ela traz.

Talvez uma das cenas mais lindas que já tive com alguém, sexualmente falando, foi nós dois nus nos olhando no espelho. Eu olhando para seu corpo e ele para o meu. Apenas isso. Operando os nossos saberes, conhecendo um ao outro, ou, quem sabe, já traduzindo, melhor que qualquer alfabeto, o que nós estávamos sentindo um pelo outro naquele momento.

E indo mais longe, esse "saber", no fim das contas é um saber de um Outro, de um Outro que habita dentro de si. O saber, não importa se ele é furtivo como uma gozada num canto escuro proibido da madrugada ou no casamento mais duradouro pode ser- digo pode, porque nem sempre estamos dispostos a isso- uma profunda experiência de auto conhecimento. Acho que estou somando mais algum ao meu.



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